Tecnologia e adaptação aumentam exportação de carne e lucros em GO
Estado é o que mais cria gado confinado do país, diz confederação. Estudo indica que Goiás pode ser maior polo produtor do Brasil até 2017.
As exportações de carne bovina produzida em Goiás cresceram 15,5% no primeiro semestre de 2013 em comparação ao mesmo período do ano passado, com um faturamento de cerca de US$ 40 milhões a mais, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). O aumento é reflexo das adaptações feitas por pecuaristas na criação, principalmente em adotar o confinamento.
O PIB brasileiro cresceu 1,5% no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta sexta (30) pelo IBGE. O destaque foi para agropecuária, que teve crescimento de 3,9% em relação ao primeiro trimestre, seguida por indústria, com alta de 2%, e serviços, com alta 0,8%.
A carne no sistema de confinamento tem qualidade superior à produzida no pasto e, segundo os frigoríficos, obtém melhor aceitação no mercado internacional. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que Goiás pode se tornar o maior polo produtor de carne do país até 2017, ultrapassando Rio Grande do Sul e São Paulo.
"Aquela visão romântica do campo não é mais a mesma. A dinâmica hoje é muito diferente. A gente tem que ter visão de negócio", diz o pecuarista Victor Ginani, de 32 anos, proprietário de um confinamento em Cocalzinho de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Para trabalhar melhor essa nova concepção de fazenda e de olho no mercado externo, ele se formou em administração de empresas e conheceu a produção agropecuária de outros países.
Até 2006, a família de Ginani criava gado em sistema de pasto. Para potencializar a produção e melhorar a qualidade da carne, ele decidiu investir no confinamento. "Percebemos que o pecuarista, para exportar, tem que buscar a excelência da carne e ter uma visão empresarial. Se não, está fadado a não dar certo. O confinamento é mais rentável porque, apesar do custo alto, há um giro maior de gado e, por consequência, gera mais renda”, diz.
Segundo a CNA, Goiás é o estado com o maior número de confinamentos do país, reunindo mais de 50% do rebanho nacional confinado. Os goianos já exportam para 140 países, com destaques para o Egito, Rússia e Chile.
No Brasil, de janeiro a julho, as exportações de carne bovina cresceram 14,5% em faturamento e 21,1% em volume, de acordo com a Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina (Abiec). As vendas somaram US$ 3,579 bilhões no período e alcançaram 807,2 mil toneladas. No ano passado, o crescimento das exportações foi de 13% em volume, para 1,2 milhão de toneladas, e em faturamento houve alta de 7%, para US$ 5,8 bilhões.
Fazenda adaptada
O processo de adaptação da fazenda de Ginani levou cerca de três anos e custou mais de R$ 1 milhão. Sete anos depois de implantar o sistema, o número de cabeças de gado saltou de 400 para 2 mil. "Ano passado, o lucro por cabeça era de R$ 30. Este ano, com a diminuição do custo da ração e por questões sazonais, o lucro é de R$ 120", calcula.
Para produzir com qualidade, há rigoroso controle do calendário de vacinação e da esterilização dos materiais usados na imunização. A fazenda investiu em instalações apropriadas e mão de obra. Hoje, mantém rígido acompanhamento veterinário, com atenção à alimentação do rebanho (cinco refeições diárias) e combate a insetos.
De acordo com o presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, esses cuidados são fundamentais para que a carne seja bem aceita por outros países. "Podemos dizer que toda produção tem grandes chances de exportação. Basta ter qualidade."
O presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados no Estado de Goiás (Sindicarne-GO), José Magno Pato, defende que o estado tem tudo para se manter firme na produção de carne do país, principalmente se houver mais investimento em confinamentos. "Apesar de ter um custo mais alto, esses sistemas são mais rentáveis e produzem animais com maior chance de consumo do mercado exterior. Até porque, a agricultura está tomando espaço de muitas pastagens".
Goiás
De acordo com o pesquisador do Centro de Estudos Agrícolas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV Mauro Rezende Lopes o que mais contribui para a expansão goiana são a facilidade de escoamento da produção e a existência de conglomerados, constituídos por propriedades próximas a fornecedores, fábricas de insumos e locais de abate. "Chamou a atenção a expansão desse sistema nas regiões sudoeste e noroeste do Vale do Araguaia".
Conforme o estudo, pecuaristas enviaram 1 milhão cabeças de gado para abate no ano passado, um acréscimo de 100 mil em relação a 2011, ou seja, alta de 10%. No entanto, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) pondera que outros 2 milhões de bois abatidos ainda são criados nos mais variados sistemas, como pastagem e integração com agricultura.
Tecnologia
A tecnologia é uma grande aliada dos produtores rurais, pois possibilita a rastreabilidade do rebanho e o controle dos procedimentos realizados na fazenda. "Hoje, eu uso cerca de 40% da tecnologia disponível no mercado. É pouco, se comparado com outros países, mas já me ajuda muito a balancear gastos e retornos financeiros. A tecnologia é o que proporciona o ajuste fino na produção", afirma o pecuarista.
Entre os maquinários usados na fazenda, Ginani destaca uma caçamba que mistura e calcula a quantidade correta de cada alimento usado na composição da ração. Com ela acoplada a um caminhão, a refeição é distribuída diretamente nos cochos. O equipamento completo custa em média R$ 300 mil. "Antes usávamos um vagão, sem medição. E a mistura precisa de todos os elementos", afirma.
Os produtores nem sempre podem recorrer a tudo o que está disponível no mercado para aumentar o volume de carne, como o uso de hormônios e anabolizantes.
Um exemplo é a substância beta-agonista, que ajuda no ganho de peso na fase final do confinamento. Ela foi liberada pelo Ministério da Agricultura no meio do ano passado, mas foi proibida em dezembro. Nesse período, alguns produtores investiram nessa tecnologia, como Ginani, que teve um prejuízo de cerca de R$ 24 mil. No entanto, segundo a zootecnista da Faeg Christiane Rossi, vários produtores não tiveram a mesma sorte e fizeram um alto investimento. "Eles foram obrigados a readequar a produção para não ficar fora do mercado de exportação", disse.
Produtores x frigoríficos
Para Ginani, o maior empecilho para uso de promotores de crescimento de carne nos animais é o lobby dos frigoríficos. "Essas substâncias não são liberadas por pressão das empresas. Elas teriam um gasto muito maior para o abate, já que teriam de separar o gado conforme o hormônio usado na produção e também aumentaria o peso do boi, tendo que repassar mais dinheiro para o produtor. Além do que, teriam que segmentar a carne conforme as exigências de cada país".
O presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados no Estado de Goiás (Sindicarne-GO), José Magno Pato, nega a existência de qualquer união entre os frigoríficos no estado para pressionar o poder público a proibir o uso de hormônios e anabolizantes. "Isso não existe. O que priorizamos sempre é receber carne de qualidade que será absorvida pelo mercado de exportação, que paga mais", ressaltou.
Ginani reclama ainda que muitas vezes os frigoríficos não reconhecem a qualidade da matéria-prima. Além disso, os problemas que ocorrem durante o abate dentro da indústria são descontados do pecuarista. "Qualquer falta que descaracterize o produto de excelência, eles te penalizam, mas não tem bonificação se o seu produto é melhor. Muitas vezes há uma relação polêmica com o frigorífico", explicou o fazendeiro.
O sindicato, por sua vez, confirma que há muitos problemas nesse relacionamento, mas nega que apenas os interesses das empresas são atendidos. "A principal reclamação é sobre o valor repassado por cabeça. No entanto, essa discussão sempre existiu e é importante para o fomento do mercado. O importante é que cada produtor negocie previamente com os frigoríficos para que haja um acerto do que será pago", afirmou Pato.
O diretor da Associação Nacional de Confinadores, Bruno Andrade, pondera que, apesar das negociações, já existem parcerias comerciais. "As negociações não são muito claras e nem boas. Há malandragem em ambos os lados. Com isso, bons produtores e bons frigoríficos são prejudicados. Por isso, é preciso conquistar a confiança", comenta.
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