Filho da prefeita Maninha Fontenele era chamado de 'padrinho' por membros do PCC, diz polícia

Pedro Júnio é chamado de “Padrinho” por membros do PCC, entre eles, Felipe Borges Amarante, considerado o braço-direito de Laurício Caetano, segundo as autoridades, é o líder do PCC em Luís Correia.

O filho da prefeita de Luís Correia, Pedro Júnio Fontenele Brito, preso preventivamente no último dia 07 no âmbito da Operação Volt, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), também foi alvo, no mesmo dia, da Operação LED, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Piauí (FICCO), suspeito de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro, organização criminosa e tráfico de drogas. A suposta relação do filho da prefeita Maninha Fontenele com o crime organizado no litoral piauiense é revelada em documento obtido, com exclusividade, pelo Viagora.

As informações a seguir constam na decisão proferida no dia 16 de janeiro pelo juiz Sávio Ramon Batista da Silva, da Central Regional de Inquéritos, na qual ele decreta a prisão temporária de 12 pessoas alvos da Operação LED, suspeitas de envolvimento em lavagem de dinheiro para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Pedro Júnio Fontenele, embora não tenha sido preso temporariamente no âmbito dessa operação, tem seu nome mencionado na decisão judicial, revelando uma relação próxima dele com membros do PCC.

Foto: Divulgação/ Instagram
Prefeita de Luís Correia e filho, Pedro Júnio

Na decisão, constam trechos da representação policial pela prisão dos suspeitos. Em um desses trechos, a polícia afirma que Pedro Júnio é chamado de “Padrinho” e “Chefe” por alguns membros do PCC, entre eles, Felipe Borges Amarante, considerado o braço-direito de Laurício Caetano da Silva, que segundo as autoridades, é o líder do PCC em Luís Correia.

Em um dos trechos da representação, consta que o núcleo financeiro do PCC, gerenciado por Felipe Borges, recebia dinheiro público da Prefeitura de Correia através de Pedro Júnio, então secretário de finanças do Município.

“Além de servir à facção PCC, há elementos indicativos de que o núcleo criminoso gerenciado por Felipe Borges também recebe e distribui dinheiro público do município de Luís Correia/PI. A referência política desse segmento do trabalho criminoso é o secretário de finanças do município, Pedro Júnio Fontenele Brito, filho da atual prefeita Maria das Dores Fontenele Brito. Felipe Borges afirma repetidamente que seu chefe é Pedro Júnio Fontenele Brito. Existem referências a Pedro Júnio como o ‘Padrinho’ ou ‘Empresário’”, consta na representação.

As informações sobre as relações de Pedro Júnio com os presos foram retiradas do celular de Felipe Borges, apreendido pela polícia. Foram encontradas trocas de mensagens revelando que o filho da prefeita Maninha tratava de questões financeiras com diversos traficantes de Luís Correia, incluindo Laurício Caetano, chefe do PCC na cidade.

No documento não é explicado com qual finalidade o dinheiro público do Município de Luís Correia era distribuído ao crime organizado, contudo, a polícia informa que a namorada de Pedro Júnio participou do esquema de lavagem de dinheiro do PCC.

“As mensagens demonstram que conhecem e já trataram de assunto de dinheiro com Pedro Júnio os traficantes Marcos Aurélio Ravanete, Fofão, Lacoste, Matheus Vinícius, Daiane Xavier, e o chefe local do PCC, Laurício Caetano. Existem elementos que demonstram a participação consciente de Raenna Samelha, namorada de Pedro Júnio, no esquema de recebimento e distribuição de dinheiro por contas bancárias capitaneado por Felipe Borges.

A possível mescla de valores desviados da Prefeitura Municipal de Luís Correia/PI com dinheiro arrecadado de pontos de venda de drogas e o vínculo entre o secretário de Finanças do município e notórios traficantes e faccionados do PCC confere ao núcleo financeiro de Felipe Borges maior grau de importância”, diz outro trecho da representação policial citada na decisão do juiz Sávio Ramon Batista da Silva.

Além dos dados telemáticos obtidos a partir do celular de Felipe Borges, a representação foi baseada em relatórios de Inteligência Financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e relatórios de análise financeira elaborados pela Polícia Federal. As constatações do COAF corroboram a hipótese criminal de lavagem de dinheiro.

Prisão

Pedro Júnio Fontenele e o engenheiro Marcus Vinicius Cavalcante Pinheiro, proprietário da Conceito Engenharia e Arquitetura, foram presos preventivamente no âmbito da Operação Volt, deflagrada pelo Gaeco na manhã do dia 07. De acordo com o Gaeco, os investigados são alvos de inquérito que apura, entre outras práticas, desvios de recursos públicos destinados ao serviço de iluminação pública do município de Luís Correia, através de fraude à licitação, corrupção ativa e corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Operação LED

Foram presos na Operação LED os seguintes investigados: Laurício Caetano da Silva, natural de Aquiraz/CE; Felipe Borges Amarante, natural de Icapuí/CE; Lucas Borges Amarante, natural de Parnaíba/PI; Fernanda Silva de Souza, natural de Belém/PB; Daiane Xavier Amarante, natural de Fortaleza/CE; Matheus Vinicius Rodrigues de Araújo, natural de Luís Correia/PI; Lana Aparecida Santana da Silva, natural de Parnaguá/PI; Carlos Magno Bezerra Higino, natural de Luís Correia/PI; Tailane Maria de Sousa Paiva, natural de Parnaíba/PI; Vinícius Vaz de Souza, natural de Luís Correia/PI; Leonora Sabino Morais, natural de Fortaleza/CE; João Paulo Gomes Fernandes, natural de Guajará-Mirim/RO.

De acordo com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, Laurício Caetano da Silva exercia a função de liderança do PCC, cabendo a ele a articulação direta do tráfico de drogas em Luís Correia. “Para movimentar os valores do crime, Laurício Caetano comanda uma rede de comparsas e familiares que arrecadam dinheiro em espécie nos pontos de venda de drogas, depositam e movimentam o numerário pelas contas bancárias de interpostos”, diz trecho da representação pela prisão temporária dos acusados.

Ainda conforme as autoridades, Felipe Borges Amarante, outro alvo da operação, é um dos mais ativos parceiros de Laurício Caetano, sendo o proprietário do aparelho celular a partir do qual foram obtidos registros detalhados da rotina do esquema criminoso.

O juiz menciona, na decisão, que Felipe Borges atuava como operador financeiro do esquema de lavagem de dinheiro do tráfico. “Felipe Borges Amarante exerce a suposta função de operador financeiro dos traficantes de Luís Correia/PI, em especial de Laurício Caetano da Silva, responsável pelo recolhimento, contagem e distribuição de dinheiro ilícito entre pessoas e contas bancárias diversas. Sua rotina como suposto agente do crime consta em um vasto e coerente acervo de imagens, vídeos, áudios e mensagens extraídos do seu aparelho celular”.

Traficantes da fronteira com a Bolívia

Com base em informações obtidas no referido aparelho celular, Relatórios de Inteligência Financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e relatórios de análise bancária e financeira, a polícia descobriu que os investigados efetuavam transferências bancárias a fornecedores de drogas na fronteira com a Bolívia e também destinavam valores a familiares de faccionados presos ou foragidos.

Em sua decisão, o juiz Sávio Ramon Batista destacou que João Paulo Gomes Fernandes, diretamente de Rondônia, na fronteira entre Brasil e Bolívia, enviava drogas para o Piauí, recebendo o pagamento através de transferências bancárias efetuadas pelos demais investigados.

“As investigações demonstram também indícios de que Laurício Caetano da Silva, Felipe Borges Amarante, Lucas Borges Amarante, Fernanda Silva de Sousa, Daiane Xavier Amarante, Matheus Vinícius Rodrigues de Araújo, Lana Aparecida Santana da Silva, Carlos Magno Bezerra Higino, Tailane Maria de Sousa Paiva, Vinícius Vaz de Souza, Leonora Sabino Morais, são supostamente integrantes do núcleo financeiro do Primeiro Comando da Capital no litoral do estado do Piauí, recolhem semanalmente valores em espécie arrecadados nos pontos de venda de drogas e promovem a circulação destes valores por contas bancárias de terceiros, com o propósito de ocultar-lhes e dissimular-lhes a natureza e a origem ilícitas, para ao final destiná-los a João Paulo Gomes Fernandes e outros, diretamente ou por intermédio de pessoas jurídicas, supostamente a título de pagamento de drogas da fronteira”, diz trecho da decisão.

Movimentação financeira milionária

A polícia levantou que, somente em 2023, o grupo criminoso movimentou exatamente R$ 12.740.213,08 (doze milhões, setecentos e quarenta mil, duzentos e treze reais e oito centavos).

Outro lado

Viagora procurou a prefeita Maninha Fontenele para falar sobre o assunto, mas até o fechamento da matéria a gestora não foi localizada. A reportagem também procurou Pedro Júnio Fontenele sobre o caso, mas ele também não foi localizado. O espaço permanece aberto para esclarecimentos.

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