"Ele botou foi para matar", diz delegada Vilma sobre Pablo Campos
Em entrevista ao Viagora, a delegada falou também sobre avanços e que a mulher ainda é vítima de machismo e violência.
Vilma Alves, titular da Delegacia da Mulher de Teresina, ao longo dos vários anos de trabalho se tornou uma referência no combate à violência contra a mulher do Piauí.
A delegada também ultrapassou as fronteiras do estado e ganhou notoriedade nacional, devido o rigor com o qual trata os opressores e agressores de mulheres no estado.
Em entrevista ao Viagora, Vilma Alves falou dentre outros assuntos, sobre avanços, feminicídio e que, apesar de muitas conquistas, a mulher ainda é vítima de machismo e violência.
- Foto: Hélio Alef/ViagoraDelegada Vilma Alves.
Viagora: Desde a promulgação da lei Maria da Penha, quais foram os avanços mais significativos, na opinião da senhora?
Delegada Vilma: A lei disponibiliza no caso e prender em flagrante em delito historicamente desde do anuncio do código penal, em 2006, vem uma lei que prende um marido, companheiro, namorado então a Lei Maria da Penha no meu ponto de vista vem como garantia da constituição de 88 e uma proteção da lei no direito com relação à violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, mulher não tinha dignidade, como que ela ia ter moral. Ela traz ao vigor, a luz do direito a proteção da dignidade da mulher. E o respeito à dignidade da mulher. Hoje a mulher é cidadã é enfadonho dizer mas tem que reforçar porque tem homem que acha é dono da mulher.
Viagora: São 30 anos da Delegacia da Mulher e a senhora foi uma das idealizadoras, como foi essa conquista?
Delegada Vilma: Vim do movimento de mulher da Praças Pedro II, Avenida Frei-Serafim que era palco das nossas reivindicações de lutas, para falar do direito da mulher, então o primeiro conselho municipal que hoje tem 35 anos, nós fomos para as ruas pedir esse conselho, porque em 1985 foi criado a primeira delegacia da mulher no Brasil em São Paulo e o Piauí foi o último e tinha que ter o conselho que e antes da criação da delegacia, inclusive fui presidente do conselho municipal. Sempre trabalhando a cidadania da mulher.
Viagora: Ao longo desses anos de trabalho, qual foram os casos registrador da Delegacia da Mulher que mais marcaram?
Delegada Vilma: São vários casos que marcam a gente, mas nós tivemos um caso na década de 90 que machucou muito foi uma mulher que sofreu uma violência aqui em Teresina e ficou refém em uma mata amarrada e apanhou demais, nós resgatamos essa mulher estava toda doida, que ela não podia sequer se abaixar de tanta taca. Tivemos outro caso de uma criança de sete meses estuprada. São inúmeros os casos de violência com mulheres que chegam aqui que a gente não sabe onde está o nariz ou boca de tão machucadas. No dia 5 de outubro de 1991, eu vi uma senhora com maxilar decido para baixo uma coisa terrível e são fatos que doem, mulher com cabeça partida de facão, com vagina queimada, orelha decepada, com seios decepados, todos esses casos já passaram por aqui. São muitos os depoimentos de violência ao longo desses anos.
- Foto: Hélio Alef/ViagoraDelegada Vilma Alves fala sobre o trabalho na Delegacia da Mulher.
Viagora: Atualmente, quantas ocorrências são registradas por mês na delegacia?
Delegada Vilma: Depende se for segunda-feira a gente chama a feira aqui, porque é final de semana, tem bebida quando os agressores recebem dinheiro a violência se torna maior. Acredito que mais de 100 casos por mês são registrados de violência, são variados. Se tiver show, festas, feriados também aumentam os registros.
Viagora: O que a senhora acha da Lei da Importunação Sexual, a senhora acredita que essa lei ajudou na aplicação da Maria da Penha?
Delegada Vilma: Hoje nós temos essa lei muito boa, que é a lei da importunação, antigamente o homem abusava, e dizia “aí que gostosa”, isso é crime, assobiar e crime, porque é violência psicológica, a mulher hoje tem moral, então porque ela vai ser exposta, dentro do transporte coletivo por exemplo, acontece muita importunação e essa lei é para isso, e é considerado crime hediondo vai preso e não tem direito de fiança não.
Viagora: Na sua opinião, o que se deve o aumento de casos de feminicídios no Piauí
Delegada Vilma: É a questão do machismo, não e que faz aumentar sempre ouve só que hoje nos vivenciamos uma rapidez dos fatos, a divulgação ocorre no momento que acontece. Essa forma das redes sociais dá uma sensação de que aumentou, mas sempre existiu só que agora a divulgação e mais rápida e casos que não eram julgados estão sendo julgados.
Viagora: Em setembro duas mulheres foram atropeladas e uma morreu na saída de uma festa em Teresina. O acusado que está preso é o empresário Pablo Campos, namorado da vítima que sobreviveu. O que a senhora tem a dizer sobre esse caso?
Delegada Vilma: Não tenho dúvidas que a proposta dele era de matar, ninguém é de mola nem é de borracha então era para matar, ele botou foi para matar. Não é consolo, mas existe no Piauí uma polícia muito boa, rapidamente se trabalha a questão, nós temos quatro delegacias na capital, uma de homicídios e de feminicos, central de gêneros, temos um ponto da rede social, salve maria então isso tudo essa conjuntura é para se trabalhar a questão da violência não e à toa que os feminicidas estão presos.
Viagora: A senhora é considerada uma referência no combate à violência contra a mulher. Diante da sua experiência, que tipo de sinais as mulheres devem estarem atentas para identificar uma relação abusiva?
Delegada Vilma: Eu sempre digo, primeiro o grito porque intimida, puxarranco de cabelo, xingou, isso são indícios, não dê chance, não alimenta porque o corpo se manifesta quando está doente, mas o outros se manifestam quando quer bater. O primeiro sinal de é quando ele demostra os ciúmes exagerado de proibir de ir na casa da sua mãe, se está na universidade diz que é para ir e volta logo, vigia o celular, o celular é um instrumento pessoal de cada um, não tem nada de marido ficar sabendo, tem marido aqui que programa o telefone que a esposa vai fazer e receber ligações, são essas proibições fora de época que nãos e pode aceitar. Esses exemplos levam as agressões piores.
Viagora: Atualmente como a senhora avalia a estrutura da Delegacia da Mulher para o desenvolvimento dos trabalhos?
Delegada Vilma: Está faltando muita coisa, nós trabalhamos por amor, são poucos os policiais, material e precisa que as delegacias no meu de vista que defende a questão da mulher tenham suporte para a mulher, como viaturas, pessoas. Aqui tinha que ter psicólogos, assistência social, existe uma necessidade a mulher sai de casa vem sozinha, está precisando de um acolhimento em todos os aspectos, e ela fica num dilema. E essa estrutura prevista pela lei é necessidade que deveria ter, mas acredito que um dia vai acontecer, de mais urgente eu precisaria de estrutura moderna com tudo que é necessário se acontece o fato nós queríamos logo estar presente. Mas mesmo assim com o pouco que temos fazemos muito, porque colocamos a dose do amor. Aqui eu digo a mulher vítima, não tem marido influente, namorado, primeiro sempre será a mulher.
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