Cresce o número de gatos abandonados na Avenida Marechal Castelo Branco
Os animais estão sujeitos a vivenciarem violências praticadas por pessoas e sofrerem acidentes que podem leva-los á óbito.
Em Teresina, gatos estão sendo abandonados na Avenida Marechal Castelo Branco, na sua maioria, ainda são filhotes. Os animais são deixados em casinhas construídas para abrigar os animais em situação de rua, na região Norte da cidade. Os gatos abandonados são alimentados e tratados por protetores independentes e pessoas da comunidade, que chegam a fazer dívidas em clínicas veterinárias para tratar os bichos doentes.
O Projeto “Gatinhos da Marechal”, criado pela servidora pública Fabiane Sampaio e seu marido, o advogado Gilvan Sampaio, com o objetivo de cuidar desses animais abandonados na avenida teve início em 2015. O projeto é divulgado através do Instagram, onde são mostrados os abandonos diários de filhotes, e pedidos de ajuda para animais doentes que necessitam de resgate.
Fabiane Sampaio, idealizadora do projeto, conta que começou a ajudar os animais do local quando morava próximo a Ponte da Primavera, onde fica um ponto de abandono. De acordo com ela, inicialmente não haviam muitos gatos, ela informa que o número foi crescendo ao longo dos anos. “A gente morava próximo a Marechal, e víamos vários gatinhos filhotes, bebezinhos, quando a gente passava ou quando a gente ia caminhar. Foi mais ou menos sete anos atrás, eram bem menos, e ficavam em baixo de um banquinho”, disse.
A servidora pública conta também que após adotar um dos filhotes juntamente com o marido, começou a alimentar e procurar famílias para adotar os animais, ela informa que já chegou a zerar o número de filhotes que habitavam a avenida, porém, poucos dias depois mais felinos foram abandonados. “A gente começou a colocar uma raçãozinha, botando umas vasilhas, procurar adoção para eles, inclusive algumas férias minhas eu consegui zerar a quantidade de filhotinhos nos pontos que tinham, mas infelizmente logo depois abandonavam, uma vez abandonaram 14 (filhotes) de uma vez. Eu zerava em julho, zerava em dezembro, e novamente três dias, quatro dias depois, começavam a ter vários filhotes de novo”, conta.
De acordo com Fabiane, durante a pandemia de covid-19, o número de animais abandonados cresceu assustadoramente, ela informa que nesse período contabilizou 57 abandonos em uma semana. “Com o início da pandemia o aumento de abandono é uma coisa absurda, para você ter ideia, antes a gente colocava dois sacos de ração na Marechal, dois, dois e meio de 25 kg por mês, com o aumento da pandemia nós tivemos semana, sete dias que foram abandonados 57 filhotes na Marechal”, informa.
Ainda de acordo com Fabiane, outros fenômenos perceptíveis no período pandêmico, foram o aumento de pontos de abandono na extensão da avenida e o abandono de animais doentes, com deficiências físicas e até mesmo em trabalho de parto. “Começou a surgir também casos de abandonarem animais doentes, que não tínhamos tanto, eram mais abandono de filhotes, mas começaram amputados, as mais diversas doenças, doenças neurológicas, gata abortando, gatinha parindo, com os filhotes, e também aumentaram os pontos (de abandono), antes eram três pontos e começou ter quatro, cinco. As pessoas vão colocando (comida) em outro lugar, e não percebem, que cada vez que você alimenta em um lugar, aquele lugar vai virar um potencial ponto de abandono, e aí começa a colocar e não dá continuidade, por algum motivo para, só que já tem gato ali, aí a gente termina assumindo porque a ficamos muito condoído com a situação deles”, relembra.
Segundo a servidora, os gatos que vivem no local estão sujeitos a vivenciarem violências praticadas por pessoas, sofrerem acidentes que podem leva-los á óbito, e também podem chegar a serem comidos por outros animais. “Do mesmo jeito que são abandonados muitos, muitos morrem, a gente tem atropelamento, outros animais que se alimentam dos gatinhos da marechal; Raposa, Cobra. E principalmente a maldade humana”, conta.
Fabiane informa que são colocados cerca de dez quilos de comida nos pontos de abandono da Avenida Marechal, e denuncia que há casos de furtos dessas rações dos animais nos pontos de abandono. “A gente tá colocando quase dez quilos de ração por dia na Marechal e em outros pontos que a gente alimenta, é uma quantidade de ração e se você for no outro dia de manhã já quase não tem. E o roubo de ração, também tem na Marechal, os drogados, não só drogados, aqui acolá a gente briga com um senhorzinho, um idoso ou outro que vai lá roubar a ração dos gatos”, denuncia.
Ela conta que criou o perfil no Instagram para chamar a atenção da população para o crime que ocorre diariamente na avenida, Fabiane informa também que um dos principais objetivos é a instalação de câmeras na extensão da Marechal para inibir a pratica do abandono, ela comenta também que já entregou projetos a vereadores. “O nosso principal objetivo, é que instalem câmeras na Marechal, a gente inclusive já entregou um projeto de lei para alguns vereadores apresentarem na Câmara, mas a gente não teve muito sucesso, porque um objetivo da gente é que acabe mesmo, e que não haja mais necessidade de ir, porque é um sonho, porque se a gente não tiver mais necessidade de ir, é porque acabou (o abandono)”, disse.
Fabiane explica que com a criação da página conseguiu ajuda para realizar resgates de animais doentes. “Com o Instagram a gente tem podido fazer mais resgates, mas mesmo assim, nesse mês a gente tem uma coisa que nunca teve, que é gatos que a gente realmente não pode resgatar, porque estamos endividados nas clinicas, e as urgências são muito grandes, a gente se desespera, mas a gente não tem como acolher, não tem lar temporário e principalmente não tem recurso para poder resgatar esses gatos, que são os últimos que foram abandonados”, disse.
A Servidora Pública relata que a maior parte das casinhas instaladas na Marechal foram custeadas pelos seguidores que acompanham o projeto através do Instagram, e uma delas foi construída por outro cuidador, ela relata que haviam sete casas que abrigavam os animais, mas que uma foi furtada. “As casinhas brancas foram os seguidores que custearam, a casinha azul foi o seu Assis que fez. Agora tem seis, uma roubaram”, disse.
Legislativo sobre o assunto
A equipe do Viagora, conversou com a vereadora Thanandra Sarapatinhas (Patriotas), defensora da pauta animal em Teresina, para saber se há algum projeto para inibir o crime de abando de animais na capital.
Questionada se há alguma ação para fiscalização na área de abandono na Avenida Marechal Castelo Branco, a parlamentar fala que esse método não é muito eficiente e pode provocar a aparição de novos pontos. “Fiscalizar a gente sabe que não dá em nada porque a gente faz a denúncia, vai na delegacia e o povo não faz nada, se a delegacia vai pegar o animal, vão levar pra onde? Porque ninguém quer adotar, a verdade é essa, o povo abandona porque não tem coração, e a galera não quer gastar dinheiro, não quer castrar”, expôs a vereadora.
Thanandra Sarapatinhas informa que tem como objetivo implantar umHospital Público Veterinário e um projeto de Castração Móvel na capital como medida para redução populacional e de abandonos em Teresina. “Estou na luta para conseguir o hospital, conseguir o castramóvel, porque só isso que vai fazer diminuir a quantidade de abandonos, porque pode botar câmera, pode fazer o que for ali, eles vão deixar de abandonar na Marechal, mas eles vão abandonar em outro ponto, outro ponto vai virar a marechal com abandono de gatos, a gente tem que castrar, não tem muito o que fazer, é como falei, eu fiz o projeto, o das câmeras e tudo, mas vão abandonar em outro ponto, e talvez seja até pior, porque os animais não vão ter suporte”, disse.
O abandono de animais domésticos é crime previsto em lei, atualmente com penalidade de dois a cinto anos de prisão, multa e proibição de guarda de animais. A primeira versão da lei federal foi escrita em fevereiro de 1998, e foi alterada em setembro de 2020, tendo um aumento da penalidade para o crime.
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