"Arrancaram um pedaço do meu coração", diz pai de Janaína Bezerra em missa

Nesta sexta-feira (03), por volta das 9h, ocorreu a missa de sétimo dia da estudante de jornalismo, Janaína da Silva Bezerra, que foi estrupada e morta no campus da Universidade Federal do Piauí (UFPI), no último sábado (28) na zona Leste de Teresina. A missa foi realizada na Igreja da Nossa Senhora de Fátima, situada na Praça D. Avelar, no bairro de Fátima.

A missa foi celebrada pelo padre Amadeu Matias, ele comentou que a família está passando por grande sofrimento. “A família nesse momento, encontra-se com todo esse sofrimento. Quem é a família que não passa por uma experiencia de morte? É claro que uma morte com violência ela traz um agravante maior, a presença de jesus em nossa vida, é a presença de quem ajuda a gente a esperar a vida após a morte, a nós ajudar a viver com a ferida que o mal provoca em nós”, comentou.

Na missa estavam presentes a família, amigos e professores da jovem. O pai de Janaína, Adão Bezerra, afirmou que um pedaço de seu coração foi levado junto com a vida da filha. “Meu coração está arrasado, arrancaram um pedaço do meu coração, levou com ela. Lá em casa, tem horas que não sei o que estou fazendo”, disse.

O pai da estudante relembra que pediu que a filha tivesse cuidado ao sair e voltasse cedo para casa. “Ela saiu a mãe dela disse, olhe minha filha, tome cuidado, eu disse o mesmo, tome cuidado, volte para casa cedo. Se eu adivinhasse que ia acontecer uma coisa dessas com a minha filha, não tinha deixado ela sair de casa”, relembrou.

Adão Bezerra disse que lutou para que a filha não sofresse algum mal, mas foi o que acabou acontecendo com a jovem. O pai também lamentou não ter conseguido defender Janaína naquele momento.

“Eu estou sofrendo bastante, sempre tive cuidado com ela, toda vez que ela ia sair para a faculdade, eu falava ‘minha filha, tome cuidado, quando você estiver chegando em casa, você me liga que eu vou te pegar na parada de ônibus, se não der para você vim no ônibus, pague um uber e vem embora, chegar aqui, se você não tiver dinheiro eu tenho, eu pago’. Todo tempo lutando para não acontecer isso, mas não teve como eu defender”, lamentou.

O pai da jovem também comentou que a mãe de Janaína ainda está muito arrasada com a morte da filha. “A mãe está arrasada, arrasada, chora a noite todinha. Ontem mesmo, passou a noite toda chorando, e eu acalmando ela”, comentou.

Adão Bezerra afirmou que guardará sempre na mente que a filha sempre dizia estar lutado para ajudar os pais. “Vou guardar sempre que ela dizia que estava lutando para ajudar o pai e a mãe”, afirmou.

O pai de Janaína Bezerra também declarou que deseja que a justiça seja feita. “Eu quero justiça, quero que ele pague pelo que fez, um marginal desses não é para estar no meio da sociedade”, declarou.

O reitor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Gildásio Guedes, participou da missa e na ocasião o gestor lamentou a morte de Janaína e declara que a instituição se solidariza com a família e amigos. “Nós estamos aqui para lamentar tudo isso, é uma tristeza imensa, a universidade chora a dor da família”, lamentou o reitor.

O professor da UFPI, Paulo Fernando de Carvalho Lopes, conta que Janaína Bezerra foi uma aluna dedicada, e que possuía vontade de ajudar e contribuir.

“A Janaína foi minha aluna, e foi monitora da disciplina de Radiojornalismo, foi uma triste surpresa receber essa notícia, nunca imaginávamos, Ela foi monitora e era uma pessoa muito presente, com muita vontade de ajudar, de contribuir. Foi um semestre em que fiquei muito tranquilo, porque ela se empenhou bastante, se dedicou a turma”, contou.

O professor da Universidade federal do Piauí, também revelou que em última mensagem que Janaína enviou enquanto monitora da disciplina de Radiojornalismo, foi um agradecimento a oportunidade dada a ela, e comentando sobre a possibilidade de uma docência no seu futuro acadêmico.

“Fiquei bem emocionado porque ao olhar nossas conversas no WhatsApp, no final, tinha exatamente ela agradecendo a oportunidade de experimentar uma possibilidade que talvez pudesse vir ser no futuro uma docência”, revelou.

O docente afirmou que é necessário desenvolver políticas públicas para que casos como da estudante de jornalismo, Janaína Bezerra, continuem acontecendo e ceifando os sonhos de muitas mulheres.

 “Eu torço para que essa situação que aconteceu, não aconteça nunca mais, nós precisamos falar sobre a cultura do estupro, nós precisamos falar de segurança, nós precisamos falar de tantas coisas, que a Janaína não seja só uma estatística, que a partir de hoje a gente possa desenvolver políticas públicas, rodas de reflexão, para que a gente possa aos poucos mudar essa realidade que tem dizimado a vida de muitas mulheres, muitos sonhos. A família depositou tudo nessa formação dela, como alguém da família que iria ajudar todos os outros, e infelizmente esse sonho foi ceifado, por uma outra pessoa que também estava buscando seus sonhos e em algum momento se desvirtuou do caminho, levando a tomar essa atitude tão horrenda”, disse.