Política e drogas motivam crimes por pistolagem e assassinos tem perfil
Pistoleiros contratados para matar sem deixar rastros, geralmente não mantêm vínculo com mandantes
“O primeiro a gente sente assim, mas depois acostuma”. O relato é de Jhonatan Silva, 25 anos, réu confesso do assassinato do jornalista Décio Sá e do empresário Fábio Brasil, crimes cometidos em São Luís (MA) e Teresina (PI), respectivamente. A uma emissora de TV do Maranhão, ele revelou detalhes do crime, contou como iniciou e como fazia os “trabalhos”.
A infância ele relata que foi “normal” e que nunca teve perfil agressivo. “Nunca fui estourado, uma criança brigona não. Já tive confusões de colégio, mas nunca fui muito agressivo”, pondera. Por trás da aparência “normal”, ele revelou crueldade, apesar da pouca idade. Nas costas ele carrega o peso de incontáveis mortes que executou. “Eu acho que era o meu trabalho, entendeu? O que eu fazia, e eu entendo assim como uma forma natural no mundo onde eu vivia”, diz.
Ele admite que seu perfil fica acima de qualquer suspeita e que para as pessoas não havia indícios de que ele era um pistoleiro, matador de aluguel. “Eu não demonstrava pra ninguém o que eu faço. Para mim eu sempre vivi assim o mais simples possível, acima de qualquer suspeita”, admite, apesar de revelar que, desde criança, se envolvia com criminosos.
Apesar da convivência prematura com o mundo do crime, Jhonatan não atribui a atividade que escolheu como profissão às más influências. “Eu tinha vontade, entendeu? Dentro de mim eu tinha vontade de ser aquilo porque quem fazia aquilo na época tinha a roupa que queria, tinha uma moto, um carro, as coisas que todo mundo quer ter. Aquilo desperta na gente a vontade de ter também, de estar no meio”, diz. A vontade de ter dinheiro foi fazendo com que o adolescente não desperdiçasse as oportunidades que lhe surgiam.
As vítimas, ele nunca conhecia, mas isso nunca foi empecilho para matá-las. No começo ele apenas pilotava as motos que os pistoleiros usavam para se deslocar ao local do crime, mas com a morte de um “companheiro” em 2005, ele começou a cometer os crimes com as próprias mãos. Jhonatan Silva relatou ainda que as execuções são bem rápidas e “sem chances” para as reações das vítimas. “Porque sempre é localizado. Chega, mata e vai embora. Não tem isso de pegar, sequestrar e a pessoa chegar e implorar pela vida, não. É sempre muito rápido”, argumenta.
Apesar de já ter executado vários crimes, o pistoleiro comenta que segue um ritual. “O lugar de matar é na cabeça. Na cabeça é garantia da morte”, diz. O perfil de Jhonatan Silva é comum com as características de outros acusados dos mesmos crimes. A Polícia comenta uma suposta tabela de preços utilizadas pelos pistoleiros para a cobrança dos serviços. O valor varia muito, dependendo da pessoa que será executada. “Políticos e autoridades são mais caras”, relevam os delegados Bonfim Filho e Menandro Pedro, que comandaram inúmeros inquéritos que investigaram crimes de pistolagem no Piauí. “Isso por conta da dificuldade em executar o serviço e também por conta das investigações”, atribui o delegado Menandro.
Crime com marca registrada e acima de qualquer suspeita
O que chama atenção nos casos de pistolagem é que os executores – ou pistoleiros – possuem características comuns e também uma marca registrada em seus crimes. Geralmente, são pessoas acima de qualquer suspeita. O perfil é descrito por delegados, vítimas e até mesmo advogados criminalistas. “Você olha e não dá nada por ele”, descreve o delegado Menandro Pedro, comandante d o Grupo d e Repressão e Enfrentamento ao Crime Organizado (GRECO) da Polícia Civil do Piauí. O tipo físico frágil em nada atrapalha. A maioria dos que têm avida dos outros como mercadoria não fazem uso da força. Em geral, os crimes dessa natureza seguem um padrão.
Apenas um ou dois homens participam da ação e o veículo utilizado é quase sempre uma motocicleta, por facilitar a fuga. Ao agir, o atirador escolhe o momento em que a vítima esteja mais vulnerável. E busca a precisão: os tiros quase sempre atingem a cabeça e o peito. É fatal.
“O comportamento do pistoleiro é covarde. Ele não conhece a vítima e está lá exclusivamente para matá-la. Não dá chance de reação ou defesa. Ele faz o trabalho para o qual foi contratado e foge”, relata o delegado Bonfim Filho, que atuou na Comissão Organizadora do Crime Organizado (CICO). O delegado Menandro Pedro completa. “São frios, calculistas, covardes”, enumera. “O pistoleiros não conhecem, não têm nada contra as vítimas. Agem pelo dinheiro que vão receber e não dão chances de defesa. Aos poucos, os crimes se tornam banais”, relata.
Eles geralmente são contratados por agenciadores para um serviço e deles recebem o valor combinado pela “cabeça”. O delegado Bonfim Filho comenta também que há uma espécie de “ética” entre os pistoleiros. “Se eles recebem direitinho pelo serviço, não revelam os mandantes e nem os agenciadores”, pontua.
Mas há exceções. Há relatos de que, nos casos dos pistoleiros serem pegos pela polícia, eles acabam se mantendo calados apenas se os “mandantes” custearem as despesas com a assessoria jurídica ou prestarem assistência para as famílias das vítimas. Os advogados criminalistas consultados pelo O DIA, entretanto, ponderam e afirmam que as assessoriais jurídicas não ficam sabendo quem são os financiadores. “Às vezes a própria família custeia as despesas com a defesa. Em outros casos, o valor da assessoria jurídica é acertado com o pistoleiro e ele dá um jeito de fazer os depósitos. Mas não sabemos de onde vem o dinheiro”, diz um dos advogados que pediu para ter a identidade preservada.
Agenciadores de mortes
Outra característica dos crimes de pistolagem é que o executor dificilmente conhece o contratante. Funciona assim: pistoleiro e mandante estão nos extremos opostos da rede. No meio, intermediando o crime, surge a figura do agenciador. É ele quem recebe a encomenda e organiza a ação.
Na década passada, dois homens foram presos na região de Picos acusados de comandar quadrilhas de pistolagem. Francisco Otacílio de Sousa, o “Chicó”, morava em Pio IX, e Roldão Pereira Bezerra, em Fronteiras. Ambos ordenaram dezenas de assassinatos na região.
São creditados aos pistoleiros contratados por Chicó e Roldão as mortes dos estudantes Márcio e Marcelo Ayres, filhos do então prefeito de Fronteiras, em 2004; oito mortes de membros das famílias Antão/Alencar e Arraes/Galdino de Pio IX, entre os anos de 2000 e 2004; e o assassinato, em 2007, do gerente da fábrica de cimento Itapissuma, Ranieri Charles Santos Sousa.
O curioso é que os dois bandos mantinham conexões, contratando, na maioria das vezes, os mesmos pistoleiros oriundos do Ceará. Os crimes agenciados por eles se concentram em Pio IX e Fronteiras, mas também se pulverizam pela região. Assassinatos registrados em Alagoinhas, Monsenhor Hipólito e em municípios cearenses são de responsabilidade de ambos.
Apesar de estarem fora de circulação, esses agenciadores ainda despertam medo nos municípios onde mantinham suas bases. São nomes omitidos em público e cochichados mesmo em conversas reservadas. Isso dificulta as investigações. “A população tem medo. E sem informes e informações, fica difícil seguir pistas e chegar até os mandantes”, explica o delegado Bonfim Filho.
Vítima de câncer, Roldão Pereira morreu em um leito de hospital na condição de preso. Ele ainda estava na cadeia quando sua saúde definhou. Já Francisco Otacílio de Sousa, o “Chicó”, permanece no sistema penitenciário do Piauí, onde aguarda julgamento junto ao filho Emerson Bezerra Maciel. O jovem é acusado dos mesmos crimes do pai.
A infância ele relata que foi “normal” e que nunca teve perfil agressivo. “Nunca fui estourado, uma criança brigona não. Já tive confusões de colégio, mas nunca fui muito agressivo”, pondera. Por trás da aparência “normal”, ele revelou crueldade, apesar da pouca idade. Nas costas ele carrega o peso de incontáveis mortes que executou. “Eu acho que era o meu trabalho, entendeu? O que eu fazia, e eu entendo assim como uma forma natural no mundo onde eu vivia”, diz.
Ele admite que seu perfil fica acima de qualquer suspeita e que para as pessoas não havia indícios de que ele era um pistoleiro, matador de aluguel. “Eu não demonstrava pra ninguém o que eu faço. Para mim eu sempre vivi assim o mais simples possível, acima de qualquer suspeita”, admite, apesar de revelar que, desde criança, se envolvia com criminosos.
Apesar da convivência prematura com o mundo do crime, Jhonatan não atribui a atividade que escolheu como profissão às más influências. “Eu tinha vontade, entendeu? Dentro de mim eu tinha vontade de ser aquilo porque quem fazia aquilo na época tinha a roupa que queria, tinha uma moto, um carro, as coisas que todo mundo quer ter. Aquilo desperta na gente a vontade de ter também, de estar no meio”, diz. A vontade de ter dinheiro foi fazendo com que o adolescente não desperdiçasse as oportunidades que lhe surgiam.
As vítimas, ele nunca conhecia, mas isso nunca foi empecilho para matá-las. No começo ele apenas pilotava as motos que os pistoleiros usavam para se deslocar ao local do crime, mas com a morte de um “companheiro” em 2005, ele começou a cometer os crimes com as próprias mãos. Jhonatan Silva relatou ainda que as execuções são bem rápidas e “sem chances” para as reações das vítimas. “Porque sempre é localizado. Chega, mata e vai embora. Não tem isso de pegar, sequestrar e a pessoa chegar e implorar pela vida, não. É sempre muito rápido”, argumenta.
Apesar de já ter executado vários crimes, o pistoleiro comenta que segue um ritual. “O lugar de matar é na cabeça. Na cabeça é garantia da morte”, diz. O perfil de Jhonatan Silva é comum com as características de outros acusados dos mesmos crimes. A Polícia comenta uma suposta tabela de preços utilizadas pelos pistoleiros para a cobrança dos serviços. O valor varia muito, dependendo da pessoa que será executada. “Políticos e autoridades são mais caras”, relevam os delegados Bonfim Filho e Menandro Pedro, que comandaram inúmeros inquéritos que investigaram crimes de pistolagem no Piauí. “Isso por conta da dificuldade em executar o serviço e também por conta das investigações”, atribui o delegado Menandro.
Crime com marca registrada e acima de qualquer suspeita
O que chama atenção nos casos de pistolagem é que os executores – ou pistoleiros – possuem características comuns e também uma marca registrada em seus crimes. Geralmente, são pessoas acima de qualquer suspeita. O perfil é descrito por delegados, vítimas e até mesmo advogados criminalistas. “Você olha e não dá nada por ele”, descreve o delegado Menandro Pedro, comandante d o Grupo d e Repressão e Enfrentamento ao Crime Organizado (GRECO) da Polícia Civil do Piauí. O tipo físico frágil em nada atrapalha. A maioria dos que têm avida dos outros como mercadoria não fazem uso da força. Em geral, os crimes dessa natureza seguem um padrão.
Apenas um ou dois homens participam da ação e o veículo utilizado é quase sempre uma motocicleta, por facilitar a fuga. Ao agir, o atirador escolhe o momento em que a vítima esteja mais vulnerável. E busca a precisão: os tiros quase sempre atingem a cabeça e o peito. É fatal.
“O comportamento do pistoleiro é covarde. Ele não conhece a vítima e está lá exclusivamente para matá-la. Não dá chance de reação ou defesa. Ele faz o trabalho para o qual foi contratado e foge”, relata o delegado Bonfim Filho, que atuou na Comissão Organizadora do Crime Organizado (CICO). O delegado Menandro Pedro completa. “São frios, calculistas, covardes”, enumera. “O pistoleiros não conhecem, não têm nada contra as vítimas. Agem pelo dinheiro que vão receber e não dão chances de defesa. Aos poucos, os crimes se tornam banais”, relata.
Eles geralmente são contratados por agenciadores para um serviço e deles recebem o valor combinado pela “cabeça”. O delegado Bonfim Filho comenta também que há uma espécie de “ética” entre os pistoleiros. “Se eles recebem direitinho pelo serviço, não revelam os mandantes e nem os agenciadores”, pontua.
Mas há exceções. Há relatos de que, nos casos dos pistoleiros serem pegos pela polícia, eles acabam se mantendo calados apenas se os “mandantes” custearem as despesas com a assessoria jurídica ou prestarem assistência para as famílias das vítimas. Os advogados criminalistas consultados pelo O DIA, entretanto, ponderam e afirmam que as assessoriais jurídicas não ficam sabendo quem são os financiadores. “Às vezes a própria família custeia as despesas com a defesa. Em outros casos, o valor da assessoria jurídica é acertado com o pistoleiro e ele dá um jeito de fazer os depósitos. Mas não sabemos de onde vem o dinheiro”, diz um dos advogados que pediu para ter a identidade preservada.
Agenciadores de mortes
Outra característica dos crimes de pistolagem é que o executor dificilmente conhece o contratante. Funciona assim: pistoleiro e mandante estão nos extremos opostos da rede. No meio, intermediando o crime, surge a figura do agenciador. É ele quem recebe a encomenda e organiza a ação.
Na década passada, dois homens foram presos na região de Picos acusados de comandar quadrilhas de pistolagem. Francisco Otacílio de Sousa, o “Chicó”, morava em Pio IX, e Roldão Pereira Bezerra, em Fronteiras. Ambos ordenaram dezenas de assassinatos na região.
São creditados aos pistoleiros contratados por Chicó e Roldão as mortes dos estudantes Márcio e Marcelo Ayres, filhos do então prefeito de Fronteiras, em 2004; oito mortes de membros das famílias Antão/Alencar e Arraes/Galdino de Pio IX, entre os anos de 2000 e 2004; e o assassinato, em 2007, do gerente da fábrica de cimento Itapissuma, Ranieri Charles Santos Sousa.
O curioso é que os dois bandos mantinham conexões, contratando, na maioria das vezes, os mesmos pistoleiros oriundos do Ceará. Os crimes agenciados por eles se concentram em Pio IX e Fronteiras, mas também se pulverizam pela região. Assassinatos registrados em Alagoinhas, Monsenhor Hipólito e em municípios cearenses são de responsabilidade de ambos.
Apesar de estarem fora de circulação, esses agenciadores ainda despertam medo nos municípios onde mantinham suas bases. São nomes omitidos em público e cochichados mesmo em conversas reservadas. Isso dificulta as investigações. “A população tem medo. E sem informes e informações, fica difícil seguir pistas e chegar até os mandantes”, explica o delegado Bonfim Filho.
Vítima de câncer, Roldão Pereira morreu em um leito de hospital na condição de preso. Ele ainda estava na cadeia quando sua saúde definhou. Já Francisco Otacílio de Sousa, o “Chicó”, permanece no sistema penitenciário do Piauí, onde aguarda julgamento junto ao filho Emerson Bezerra Maciel. O jovem é acusado dos mesmos crimes do pai.
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