PF diz que Ciro teria recebido repasses ilícitos da Odebrecht
Em depoimento sobre repasses ilícitos, um cabo da PM de São Paulo relatou ter ido ao menos uma vez em 2014 entregar dinheiro no prédio onde um assessor do senador tinha um apartamento alugado.
Em novo desdobramento das investigações da Lava Jato, um sargento aposentado do 14º Batalhão da Polícia Militar de São Paulo revelou à Polícia Federal que estaria recrutando policiais militares para realizar pagamentos a “clientes VIP” de uma transportadora de valores da região na época da campanha eleitoral de 2014, de acordo com reportagem do Estadão desta segunda-feira (14).
Segundo divulgado pela PF, o sargento Paulo Roberto Romualdo e o cabo Silva integraram uma tropa de PMs que foi contratada pela empresa Transnacional e sua matriz no Rio de Janeiro, a Transexpert, para efetuar os pagamentos ilícitos da Odebrecht que teriam como destinatários finais políticos e agentes públicos de diferentes estados da federação.
- Foto: Hélio Alef/ViagoraSenador Ciro Nogueira (PT)
Sendo operado pelo doleiro Álvaro Novis, o sistema distribuiu ao menos R$ 37,9 milhões em São Paulo e R$ 81,8 milhões no Rio de Janeiro entre 2011 e 2014.
Os detalhes foram revelados à Polícia Federal e a procuradores e promotores de São Paulo e Rio de Janeiro pelos próprios policiais e por funcionários das empresas envolvidas em uma série de depoimentos concedidos em 2018 nos inquéritos da Lava Jato. Os depoimentos foram concedidos depois que Álvaro Novis decidiu colaborar com os investigadores após sua segunda prisão, realizada em 2017, e revelou como operava os pagamentos por meio das transportadoras.
Dentre os depoimentos, o cabo Silva relatou ter ido ao menos uma vez em 2014 entregar dinheiro no prédio onde um assessor do senador Ciro Nogueira (Progressistas) tinha um apartamento alugado em São Paulo. O senador é acusado de ter recebido R$ 1,3 milhão da Odebrecht naquele ano. Ciro e o assessor negam que tenham cometido irregularidades e recebido repasses ilegais da construtora.
Os policiais Abel de Queiroz, que ainda está na ativa no 14.º Batalhão, e Wilson Francisco Alves, que se aposentou em 2016, foram os maiores contribuidores das investigações. À Polícia Federal, os dois reconheceram o escritório de advocacia de José Yunes, amigo e ex-assessor especial do ex-presidente Michel Temer, como um dos locais onde levaram malotes de dinheiro a serviço da Transnacional.
O ex-presidente é acusado de ter recebido R$ 1,4 milhão da empreiteira e, em setembro do ano passado, a assessoria do Palácio do Planalto apontou que havia uma “perseguição” contra o então presidente, em publicação rebatendo o inquérito da PF. A defesa de José Yunes sustenta que ele nunca teve contato com os policiais e não era intermediário de ninguém.
A conduta dos policiais que admitiram realizar entregas para a Odebrecht está sendo investigada pela Polícia Militar de São Paulo. Seis deles ainda estavam em operação em 2014, quando foram realizados a maior parte dos pagamentos.
Operação Lava Jato
Ciro Nogueira
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