"Sistema de saúde é um caos", diz Lúcia Santos diretora do Simepi
Em entrevista ao Viagora, a Dra. Lúcia Santos, diretora do Simepi, criticou a atuação dos gestores públicos frente à pandemia de Covid-19 e denunciou as más condições de trabalho dos médicos.
Na última semana, o Sindicato dos Médicos do Estado do Piauí denunciou a má qualidade dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) fornecidos pela Prefeitura de Teresina aos profissionais de saúde que atuam no combate à Covid-19. Segundo a entidade, isso estaria expondo os médicos à contaminação.
Em entrevista ao Viagora, a Dra. Lúcia Santos, diretora do Simepi, criticou a atuação do Estado e da prefeitura de Teresina frente à pandemia e afirmou que os médicos estão arriscando a própria vida para salvar as pessoas.
A pandemia pegou a gente de calça curta porque o sistema de saúde é um caos. Tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura de Teresina não fazem o seu dever de casa, estruturam e gerenciam muito mal a saúde, inclusive tratam muito mal os médicos. Se não fosse pela própria categoria e as suas instituições, eu não sei o que seria. O médico que está dentro de um hospital, vai de encontro com um paciente com carga viral enorme, tem muito mais chance de se contaminar do que qualquer outra pessoa, sem EPIs adequados em número e em qualidade. É só por isso que as pessoas estão sendo tratadas aqui no Piauí, pela abnegação dos médicos, porque respeito pela categoria não se tem nenhum”, comentou.
- Foto: DivulgaçãoDra. Lúcia Santos.
Para a médica, há uma série de deficiências na rede de saúde pública do estado e isso, juntamente com uma administração ineficiente dos recursos, fez com que a situação se agravasse no Piauí.
“A deficiência maior é que falta estrutura melhor nos hospitais para atender as pessoas que adoecerem. Nós passamos esse tempo de quarentena e eles não fizeram o que tinha que fazer. Hospital de campanha foi apenas um gasto e não representa nada nessa pandemia, a testagem ainda é muito pouca, EPIs em péssima qualidade e em quantidade insuficiente e os protocolos de tratamento, era obrigação deles colocarem para a população, que tem o direito de usar, mas não estão tendo acesso nem à medicação e nem à testagem. Faltam vagas de enfermaria e de UTI nos hospitais, que continuam sobrecarregados”, comentou.
Estados como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, que adotaram medidas mais brandas quanto ao isolamento social, possuem uma taxa de mortalidade pelo coronavírus menor que o Piauí. Questionada sobre o assunto, Lúcia Santos disse que o tempo da quarentena não foi gasto para preparar a rede de saúde para atender e salvar os pacientes com Covid-19 no estado.
“Passamos esse tempo de quarentena para eles estruturarem e prepararem o sistema de saúde, e não gastaram dinheiro com testagem, com EPI e com medicação. Enquanto isso os médicos e outros profissionais de saúde estão adoecendo, daqui a pouco não vai ter ninguém para atender. A Prefeitura e o Governo só mandaram ficar em casa, gastaram com outdoor, aluguel das barreiras na Raul Lopes caríssimo. Mais de R$ 11 milhões o prefeito gastou com publicidade para mandar ficar em casa. O que fizeram foi só meter medo na iniciativa privada, e disseram que só vai reabrir quem gastar com teste, que é caríssimo e deveria ser obrigação do Estado e da Prefeitura. A parte deles, eles não fizeram”, disparou.
Sobre o uso do protocolo que instrui o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19 a médica classificou como “muito bom” e disse que “está salvando vidas”.
“Protocolo muito bom. Azitromicina, hidroxicloroquina, ivermectina, corticoide. É um tratamento muito bom, está sendo utilizado por todo mundo na rede privada. O pessoal que tem dinheiro e tem acesso com receita compra e é por isso que não está morrendo. Infelizmente para que não tem acesso fácil, que é a maior parte das pessoas, o poder público não está dando direito. Temos boas evidências clínicas sobre o uso desses medicamentos, o médico que não apoia é porque se politizou”, mencionou.
Lúcia Santos ainda comentou sobre a atuação do Simepi em relação às garantias dos direitos da classe médica, afirmando que o sindicato está em contato com todos os órgãos de controle e fiscalização para garantir a segurança e boas condições de trabalho para os médicos do Piauí.
“A primeira coisa que fizemos foi acionar a Justiça, o Ministério Público Federal, o Tribunal de Contas e o Ministério Público Estadual para que eles verificassem o dinheiro que ia ser gasto em hospital de campanha. Nós não somos contra o hospital de campanha, o que a gente dizia era que primeiro deveriam ser equipados os hospitais que já têm, que esses leitos e respiradores vão permancer, depois que você equipar esses hospitais, caso precisasse, era que seria feito o hospital de campanha. Nós fomos os primeiros a acionar os órgãos para verificar isso. O MP Estadual respondeu favorável à ação. Desde o início que nós fazemos a nossa fiscalização e repassamos para o Tribunal de Contas, que não aprovou o hospital de campanha do estado por não ter as normas técnicas de engenharia, e nós estamos acompanhando isso tudo”, finalizou.
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