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Delegada explica por que a morte de Camilla Abreu foi feminicídio

Nem sempre quando uma mulher é assassinada por um homem, caracteriza-se como feminicídio. A diretora de Gestão Interna da Secretaria da Segurança Pública do Piauí explica a tipificação.

“Ela morreu porque era mulher”, essa é a frase mais simplista para explicar o crime de feminicídio. Diante da resolução do caso sobre a morte da estudante de Direito Camilla Abreu, a delegada Eugênia Villa, diretora de Gestão Interna da Secretaria da Segurança Pública do Piauí, esclareceu em que casos o assassinato de uma mulher configura-se feminicídio.  

A delegada explicou que o feminicídio é uma qualificadora do homicídio, quando o crime ocorre pela condição do sexo feminino “Por exemplo, um homem namora com uma mulher e os dois são traficantes, ele pode ‘apagar’ ela como quem ‘apaga’ uma pessoa que sabe demais, não tem nada a ver com feminicídio. Agora, quando há relação de gênero, de domínio, aí sim, é a condição do sexo feminino, por ser mulher”, explicou.

  • Foto: Marcelo CardosoDelegada Eugênia VillaDelegada Eugênia Villa

Além do assassinato, a maioria dos feminicídios são caracterizados por excessos, torturas ou outros crimes conjugados. No caso da jovem Camilla Abreu, houve ocultação de cadáver, o corpo foi jogado em uma mata, no povoado Mucuim, zona rural de Teresina.

“A Rita Laura Segato é uma estudiosa, antropóloga, especialista mundial em femigenocídio e ela fala isso, que o feminicídio tem algo que excede, alguma coisa que vai além. Por exemplo o caso de Marcolândia, em que o cara matou uma mulher, depois pegou o cadáver, jogou na cama e fez sexo. Será que se ele matasse um homem ele levava para a cama? Não”, declarou.

"O feminicídio tem algo que excede, alguma coisa que vai além"

Outro ponto destacado pela delegada foi a caracterização de um relacionamento abusivo e a alegação de ciúme por parte do namorado, o capitão Alisson Wattson, que foi preso como principal suspeito do ocorrido. “Não podemos dizer categoricamente que foi por ciúme, não! Ela morreu porque ela era mulher, porque resistiu à dominação. Ele disse que ela a traiu, traiu o que? Então tinha um contrato? Nesse contrato autorizava ele a matá-la e jogá-la no lixo como coisa? [..] Ele achava que ela era um território dele, acoplada ao patrimônio dele, que ele faz o que ele bem entende, como fez com o banco do carro dele. [...] Como é que você vai jogar no lixo uma pessoa que até agora você namorava?”.

A delegada Eugênia chamou atenção o quão chocante foi a cena do corpo jogado na mata. “Ontem eu quase chorei quando eu vi onde é que foi encontrada a Camilla. Isso é degradante, isso não é humano. A Camilla não era gente ali, como as meninas de Castelo, que foram jogadas. Será possível que a gente vai permanecer nisso e dizer que isso é ciúmes? Isso não é ciúme, é dominação, é disciplinamento”, explicou.

O relacionamento abusivo entre Allisson Wattson e Camila Abreu era perceptível, segundo depoimento de familiares e de amigos que chegaram a presenciar agressões. O avô da estudante relatou que pediu para a neta terminar o relacionamento, pois já temia um final trágico.

Feminicídio no Brasil

O Brasil é o quinto país com maior número de feminicídios, em um ranking de 83 nações, segundo dados do Mapa da Violência 2015, da ONU. O levantamento mostra que entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher.

A legislação brasileira já tipifica o crime, a Lei nº 13.104/2015 alterou o art. 121 do Código Penal para incluir o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio.

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